Diga me com quem andas…

… e eu te direi quem és.

Em 1998, os americanos estavam com suas Budweisers em mãos, acompanhando ansiosamente quais seriam os calouros escolhidos para a próxima temporada da NFL. O chamado draft atrai a atenção de inúmeros expectadores e movimenta as bolsas de apostas. Naquele ano, entre tantos potenciais atletas universitários, dois chamavam a atenção do público, criando uma alta expectativa nos fãs:  os quarterbacks¹ Ryan Leaf e Peyton Manning.

¹ Quarterback é a posição de líder em um time de futebol americano. São responsáveis por decidir e executar todas as jogadas ofensivas.

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Ryan Leaf (esquerda)  e Peyton Manning no Draft de 1998

Ryan Leaf foi escolhido pelo San Diego Chargers e Peyton Manning pelo Indianapolis Colts. Ambos eram identicamente atléticos, talentosos, astutos e carismáticos. Mas as semelhanças pararam por aí. Logo na noite em que foram anunciados como novos contratados, a diferença entre ambos ficou expressa. Enquanto Ryan Leaf foi para Las Vegas, Peyton Manning foi para casa estudar seu livro de jogadas.

Ryan assinou um contrato de 4 anos valendo US$31,25 milhões de dólares (o maior contrato de um novato na história da NFL até então). Ryan sempre foi um festeiro em sua época universitária. Mas na época acadêmica ele não era milionário, então suas extravagâncias sofriam limitações financeiras. Agora não haviam mais barreiras. Ryan era o jovem mais bem pago da America, na profissão mais desejada pelos jovens americanos e na posição mais cobiçada pelos atletas profissionais. Mulheres, festas e drogas passaram a ser rotina.

Las Vegas costuma deixar qualquer um com ressaca no dia seguinte. E logo Ryan percebeu que nem sempre tudo que acontece em Vegas fica em Vegas. Sua vida pessoal começou a refletir em campo.  Nos três anos em que esteve em San Diego ele venceu apenas quatro partidas. Foi mandado embora por falta de produtividade e se mudou para Tampa Bay. A Flórida não fez bem ao garoto, e mais uma vez a rotina de festas acabou com seu jogo. Mais uma vez foi obrigado a buscar novos ares. Foi pra Dallas. Cidade nova, velhos hábitos. Novamente mandado embora. Sua última tentativa foi na fria e nublada Seattle. Mais uma vez  estava no olho da rua. Até que todos os times da NFL cansaram de Ryan e o mesmo ficou desempregado.

Então Ryan acelerou sua espiral decadente e se tornou um viciado. Em 2010 foi condenado a dez anos de condicional e foi forçado a se submeter a tratamento. Não adiantou. Dois anos mais tarde ele foi sentenciado por roubo e posse de drogas. Voltou para a reabilitação e começou a cumprir sua pena em uma prisão estadual em dezembro de 2012. Mas em 2014, enquanto estava em liberdade provisória, Ryan foi novamente sentenciado a mais cinco anos de prisão por ter roubado uma casa, violando sua condicional. 

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Ryan em uma de suas audiências criminais

E Peyton Manning? Foi escolhido 14 vezes para o Pro Bowl, 5 vezes escolhido o melhor jogador da temporada, acertando 6.125 passes. Mas estes números apenas são reflexo das escolhas de Peyton. Lembra do histórico rockstar de Ryan? Peyton preferia gastar sua oportunidade de outra forma. E é aqui onde os dois foram separados.

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No Ensino Médio, enquanto seus colegas bebiam cervejas durante as madrugadas, Peyton acordava 05 da manhã para praticar jogadas com seu pai Archie Manning (ex jogador profissional da NFL – à direita na foto) e seu irmão Eli Manning (atual Quarterback do NY Giants – à esquerda na foto).

Peyton era reconhecido por todos os atletas, treinadores e dirigentes como o cara mais competitivo que conheceram. Quer um exemplo? Mesmo quando estava se recuperando de lesões em casa, Peyton usava um capacete para treinar sua voz na hora de ‘chamar’ as jogadas.

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Ambos eram incrivelmente habilidosos e aptos a se tornarem bem sucedidos. O que separou ambos foram escolhas. E escolhas são tomadas com base no que é importante para você. E você decide o que é importante com base no que seu círculo social considera importante.

O seu círculo social reflete seus objetivos de longo prazo? Se as pessoas de seu meio social fossem ações de empresas, você investiria nelas para serem suas companhias no longo prazo? Não subestime o poder que o círculo social exerce sobre você.

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À esquerda, Ryan Leaf com seus amigos. À direita, Peyton Manning em 1998, durante suas férias.

 

18 comentários sobre “Diga me com quem andas…

  1. Ótimo post, como sempre.

    Um belo de um tapa na minha cara, que sofri uma pequena melhora financeira e de estilo de vida nos últimos meses e passei me comportar mais como Ryan, hahaha.

    O maior problema sempre é controlar a carência e necessidade de aceitação que nós faz buscar esses excessos junto de pessoas medíocres. Sem controle, estes instintos facilmente dominam o homem e o levam abaixo, sem que ele se dê conta. Vejo isso acontecer de perto, diariamente.

    Na maioria das vezes, a única escolha que temos é caminhar sozinho por um bom tempo, para evitar essas armadilhas de dopamina. E se tivermos sorte, encontrar pessoas de mente parecida no caminho, mas é bom não contar com isso.

    Olho aberto sempre, e obrigado por tirarem um tempo para compartilhar um pouco da experiência de vocês.

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    • Fala J. Wes! Muito bom ter você por aqui! Inclusive estou acompanhando sua jornada lá em seu blog.

      Se você teve seu momento Ryan e identificou o problema, você já está mil passos a frente. Todos nós passamos por fases Ryans em nossa vida. Alguns de nós acabam se prendendo a esta rotina de prazeres imediatos e aí sim a espiral decadente entra em ação. O prazer rapidamente se transforma em dor.

      Abs!

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    • Fala Finansfera$!

      Obrigado pelo elogio! Nascemos sozinhos e morremos sozinhos. Durante este intervalo cabe a nós escolher quem terá a honra de trilhar o caminho junto conosco. Não devemos deixar qualquer um se tornar nosso amigo, e sim selecionar a dedo as companhias que vão fazer parte da jornada. Obviamente que as prioridades vão mudando ao longo do tempo, portanto não devemos hesitar em mudar o círculo social quando este não é mais compatível com nossos objetivos de longo prazo.

      Bom te ver por aqui e seja sempre bem vindo!

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    • Fala Cowboy!

      Sou brasileiro, então por óbvio que cresci na cultura do soccer. Isto diminuiu ao longo do tempo, principalmente após a imersão na cultura americana. O futebol americano é muito mais do que um jogo. Muitas pessoas se dedicam ao esporte para angariar uma bolsa em uma universidade. Diferentemente do Brasil, os esportes abrem portas nos EUA. Por exemplo, em Wall Street é muito comum você ser contratado por ex atletas das mesmas faculdades em que você estudou. Tem uma questão de “você é como eu era 5 anos atrás”. Hoje, isto está mais escasso, pois os profissionais mais requisitados por lá são ligados a TI e algumas engenharias, e estes caras não são tão chegados assim em esportes.

      O que eu acho que é o DOWNSIDE é que muitas pessoas arriscam tudo na vida para se tornar jogadores profissionais. Inclusive fiz um artigo sobre este problema.

      Abs!

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  2. Grande TR,

    Por isso te mantenho como amigo 😀

    Não estamos isentos de vários casos assim no Brasil com diversos tipos de artistas e esportistas. Realmente a escolha dos amigos é fundamental para o crescimento pessoal ( e financeiro).

    Abraço!

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